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SANTO AGOSTINHO, CRIADOR DO PECADO CRISTÃO

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SANTO AGOSTINHO, CRIADOR DO PECADO CRISTÃO


Começo por confessar o meu próprio pecado : sinto-me muito mais próximo das teologias pagãs do que da teologia cristã. Isto acontece porque penso que o homem grego era bem mais livre e emancipado de subordinações do que o "bom cristão".


O conceito que os gregos tiveram de pecado tem pouco a ver com aquele que os crentes cristãos reconhecem como tal. Um crente grego pecava contra os seus deuses quando o seu orgulho pessoal o impelia a desafiar os poderes divinos. Ele incorria assim na hybris, na desmesura, na arrogância em relação a poderes que lhe eram superiores. Poderia ser sancionado por isso. Mas fora desta casual arrogância o crente grego era livre a vivia alegremente a sua vida.


O Novo Testamento fala em pecado de uma forma equilibrada, não fulminatória. A doutrinação de Jesus Cristo inseriu-se num humanismo profundo e numa escatologia de Amor que nada contém de terrífico. O que acontece é que não foi Jesus Cristo a criar o cristianismo . Quem o criou foi , inicialmente, S, Paulo e Santo Agostinho ; e , posteriarmente, os concílios do Papado romano deram-lhe continuidade, introduzindo os acrescentos espúrios do culto à Virgem Maria e da promoção à santidade a todo o bicho careta que esteja bem visto pela Cúria Pontifícia. Jesus Cristo nada teve que ver com tais disparates.


O pecado "cristão" foi literalmente inventado por Santo Agostinho.


Não existe um só texto evangélico que fale em "pecado original" , essa insensatez completa ! Mas Santo Agostinho era uma alma atormentada, dilacerada, ardendo em profundas angústias , devido talvez ao seu temperamento lascivo e às múltiplas revisões que se viu obrigado a fazer às suas variáveis crenças. Ele fora maniqueísta, vivera fora da disciplina de uma ligação conjugal reconhecida, frequentara prostitutas, roubara uns frutos em criança, tivera inveja quando vira um irmão mais novo mamar nas mamas da mãe. Era forçoso "pacificar-se" através de um banho lustral, que o "purificasse" destes vícios anteriores, que lhe pareciam intoleráveis.


A sua conversão irrompe a partir deste pano de fundo. Mas náo lhe bastou esta pacificação. Foi-lhe imperativo apresentar a natureza humana como uma realidade profundamente decadente. De uma decadência endógena, padecente de uma culpa irremovível. E que estigma mais alicinate do que culpar todas as gerações , passadas, presentes e futuras, de um tenebroso acto cometido pelo Pai Adão e pela Mãe Eva ?


Santo Agostinho foi um homem atormentado e o seu primeiro fantasma foi o da sexualidade. O maior dos pecados era o da fonte normal de vida, identificável com o acto sexual. Por isso, foi ele que decretou que o par inicial do Antigo Testamento pecara - e pecara porque fornicara !


O capital "pecado cristão" radica nisto. Ou seja, repousa sobre postulados que nunca foram sustentados ou afirmados por Jesus Cristo , que chegou ao ponto de perdoar a mulher adúltera, num tempo em que a punição para a infidelidade feminina residia na lapidação perpetrada pelo populacho.


Assim, este Agostinho foi o fundador de uma lógica auto.punitiva : o cristão , para o ser, vê-se obrigado a reconhecer-se como portador de uma culpa ancestral, que transita de geração em geração, e o irá massacrar continuamente.


A terminar este breve apontamento, convido os meus leitores a ler o livro " Confissões", de Santo Agostinho. É uma obra preciosa, quando lida com as iluminações que sobre ela podem projectar as seguras anotações de Freud sobre a sexualidade humana e sobre as disfunções que ela pode provocar, quando se associa a psicologias pouco ou nada saudáveis.


@A.C.H.

SANTO AGOSTINHO, CRIADOR DO PECADO CRISTÃO
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