QUALIDADE E APERFEIÇOAMENTO PERMANENTE
Andei por aqui a falar em qualidade de existência e em projectos permanentes de aperfeiçoamento pessoal e , por tal motivo, recebi uma mensagem do meu Amigo FRT , que dizia que eu estava a falar como um padreca.
Nada tenho contra os sacerdotes, mas tenho tudo contra os padrecas. Por isso, decidi informar o meu Amigo FRT sobre o meu conceito de qualidade e de aperfeiçoamento contínuo.
Penso que estamos na vida para ser felizes. Tanto quanto o pudermos. De modo que o meu projecto de aperfeiçoamento pessoal tem muito de egoísta.
Aperfeiçoo-me quando aprendo a discriminar e a distinguir. Não se trata apenas de me tornar melhor pessoa. Trata-se, fundamentalmente, de eu ser mais feliz. Acredito, é certo, que se eu for melhor pessoa no plano da sociabilidade eu serei melhor acolhido pela sociedade a que pertenço, e isso irá proporcionar-me felicidade.
Mas o meu conceito de aperfeiçoamento contínuo é muito mundano e até um pouco hedonista. Trata-se de ser mais humano, mais solidário, mais fraterno , mais próximo do meu semelhante. É verdade. Mas também se trata de aprender cada vez mais a discriminar entre um vinho excelente de uma zurrapa - para que EU beba vinhos excelentes ( até onde puder chegar-lhes ) e não zurrapas ; trata-se de me treinar a apreciar a melhor literatura , reservando PARA MIM o prazer das obras primas literárias ; trata-se de conseguir discernir entre mulheres chatas, desleixadas, cansativas e impossíveis de aturar , e Mulheres fascinantes, em todos os domínios e planos - e isto continua a ser bom se , como no caso dos vinhos, eu lhes puder chegar... ; trata-se de aprender a ter mais deleite com a "Apassionata" de Beethoven do que com o "Sobe sobe, balão sobe" da Dona Bravo ; trata-se de discriminar entre um pardieiro vulgar , onde dormem muitas pessoas e onde durmo eu ( mas num andarzinho NA BICA - que é um dos melhores lugares do mundo para se viver) e uma casa projectada por Le Corbusier ; trata-se de aprender a apreciar uma conversa motivadora, inteligente, informada e culta, aborrecendo a chateza infinita de parlendas tão compridas e tão chatas como a espada do Senhor Dom Afonso Henriques ; trata-se também de saber captar um dito de humor, uma troça, um faiscante e risonho móbil de abordagem , bocejando perante uma montanha de lugares-comuns e de conversatas sem o menor condimento de interesse ; trata-se de prezar muito mais Cervantes do que o Senhor Padre Agostinho de Macedo .
Em tudo isto, dou-me conta que existe um vocábulo de natureza omnipresente : aprender ! Porque é preciso aprender , certamente, sobre Ética e sobre Moral. Mas porque também, e talvez sobretudo, é urgente aprender sobre vinhos , e sobre livros, e sobre Mulheres , e sobre música, e sobre o humor , e sobre arquitectura , numa palavra, é preciso aprender SEMPRE sobre tudo.
Eu sempre estive "numa destas". Por isso é que não sou católico. Por estas e outras é que tenho uma apreciável "folha de serviços" em matérias que mantenho sob reserva .
@Autor: A.H.
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