OS TALASSAS
No tempo em que, por iniciativa de D. Carlos a ditadura de João Franco interrompeu a instabilidade governativa do rotativismo (dez governos em cinco anos) legislando por decreto e sem apoio parlamentar nem eleições, a emigração portuguesa no Brasil enviou ao ditador uma carta de apoio com trinta mil assinaturas.
A missiva foi entregue em mão por uma solene comitiva, vinha dentro de um pomposo estojo de seda azul com uns fechos em ouro e começava aludindo alegoricamente à retirada dos dez mil de Xenofonte, que fugindo dos persas e chegando ao mar onde se viram a salvo, gritaram: O mar! O mar! Que em grego se diz talassa.
A missiva terminava por isso nestes termos:
«Talassa! Talassa! O mar! o mar! Eis o grito de entusiasmo com que os de Xenefonte saudaram, no ponto Euxino, a redenção. Um governo! Um Governo! Eis o brado uníssono com que […] saúda, felicitando-se com V. Exa. a redenção no governo de Franco Castelo Branco.»
A imprensa e a oposição gozaram com a grandiloquência da missiva e daí em diante passou a chamar-se aos apoiantes de João Franco de Talassas.
E a expressão Talassa depois de 1910 passou a ser naturalmente sinónimo de conservador ou reaccionário.
Normalmente quando uma sociedade de poder tradicional começa a haver contestação e tentativa de mudança, os representantes .desse poder reagem para defenderem os seus interesses. Foi assunto muito estudado por Nietzche e Bertrand Russel, designadamente por este no ensaio O Poder Nu.
E quanto mais se perde com a mudança do poder, mais enérgica tende a ser a reacção daqueles que só ganham com a sua conservação.
O poder tradicional em regime democrático só muda com eleições. Por isso é normal que em época de eleições apareçam os talassas a incutir no povo o medo da mudança do poder.
Enfim… É um dos males da democracia com que temos de viver…
Mas, como dizia Assis Brasil, em Democracia Representativa: do Voto e do Modo de Votar, a liberdade democrática implica que o povo tenha direito de escolher instituições e governos ruins:
«É pelo preço das experiências que ele adquire a capacidade de emancipação […] A liberdade de escolher pode trazer- e traz inevitavelmente - tribulações e sofrimentos, mas ainda é o único estado digno e útil, para o homem, para o cidadão e para a comunidade»
Os Talassas têem medo da liberdade de escolha do povo… por isso condicionam o voto e vêem a liberdade de voto como uma excentricidade da democracia, porque entendem que as decisões e o poder não devem estar nas mãos do povo ignorante, mas nas de uma elite política.
Isto é, nas mãos dos TALASSAS!
Esperemos que, embora preservando a tradição e a história, também numa certa Obediência, que acabou de ir a votos, se vire aos poucos a página recente, para bem da maçonaria, em geral, e os “TALASSAS” não mais “emperrem” o progresso e adaptação aos novos tempos.
E para isso, é preciso dar definitivamente voz ao “povo maçónico”!
Que o poder saia da redoma do palácio e desça às Lojas.
Marco Aurélio M.’. M.’. Em Viagem
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