O poder como algo difuso e circulante: uma inversão do conceito de poder nas tradições mais antigas, segundo Nietzsche, Foucault, Bourdieu e Luhmann
Se tivermos em conta Nietzsch, Foucault, Boursdieu, Luhmann, de entre outros, constatamos uma inversão no conceito de poder com as tradições mais antigas.
Foucault diz-nos que “O poder, se é visto de perto, não é algo que divide entre os que o ostentam e os que não o têm ou o sofrem. O poder é e deve ser analisado como algo que circula e funciona – por assim dizer – em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguém. Nunca é uma propriedade, como uma riqueza ou um bem”.
Assim, de acordo com filósofos como Nietzsche, Foucault, Bourdieu e Luhmann, o conceito de poder sofreu uma inversão em relação às tradições mais antigas.
Enquanto nas tradições antigas, o poder era visto como algo concentrado nas mãos de uma elite ou governante, os filósofos mencionados argumentam que o poder é algo mais difuso e circula em várias camadas da sociedade.
Michel Foucault, em particular, enfatizou a ideia de que o poder não é uma coisa que é possuída ou exercida por um grupo ou indivíduo específico. Em vez disso, o poder é visto como algo que é distribuído em toda a sociedade e se manifesta em várias formas de controle e dominação.
Foucault argumenta que o poder é exercido através de práticas discursivas e institucionais, que moldam e produzem conhecimento, normas e valores. Essas práticas incluem, por exemplo, a criação de instituições como prisões, hospitais psiquiátricos e escolas, que controlam e disciplinam os corpos e as mentes dos indivíduos.
Pierre Bourdieu, por sua vez, enfatizou a ideia de que o poder é exercido por meio da dominação simbólica, que envolve a imposição de códigos culturais e linguísticos que favorecem determinados grupos em detrimento de outros.
Bourdieu argumenta que as pessoas que possuem um capital cultural mais elevado, como educação e habilidades linguísticas, têm mais poder do que aqueles que não possuem esses recursos.
Niklas Luhmann, por outro lado, enfatiza a importância dos sistemas sociais na distribuição do poder. Ele argumenta que o poder é exercido por meio de estruturas sociais, como o sistema jurídico e político, que criam normas e regras que governam a conduta dos indivíduos. Essas estruturas sociais são autónomas e têm as suas próprias dinâmicas, e os indivíduos são forçados a seguir as suas normas e regras.
Os filósofos mencionados argumentam que o poder é algo mais difuso e circula em várias camadas da sociedade.
O poder é exercido por meio de práticas discursivas e institucionais, dominação simbólica e estruturas sociais autónomas.
Não estando concentrado nas mãos de uma elite ou governante, o poder é distribuído por toda a sociedade e manifesta-se em várias formas de controle e dominação.
Uma das principais implicações dessa visão do poder é que ele não é algo que possa ser completamente eliminado ou destruído. Em vez disso, o objetivo deve ser desestabilizar as estruturas e práticas que perpetuam as desigualdades e opressões.
Por exemplo, em vez de simplesmente tentar remover um governante autoritário do poder, é necessário abordar as estruturas e práticas que permitem que essa pessoa exerça controle sobre a população. Isso pode envolver a criação de novas instituições ou práticas que permitam maior participação e controle popular.
Além disso, a visão do poder como algo difuso e circulante implica que todos os indivíduos têm algum grau de poder em suas vidas. Mesmo aqueles que são marginalizados e oprimidos em uma dada sociedade ainda possuem algum poder em suas relações cotidianas com outras pessoas.
Isso também significa que a resistência ao poder não é algo que possa ser realizado apenas por um grupo ou indivíduo específico. Ao contrário, a resistência deve ser vista como uma prática coletiva e contínua que envolve múltiplos grupos e indivíduos.
A visão do poder como algo difuso e circulante tem implicações significativas para como pensamos sobre a política e a resistência.
Ao invés de concentrar-se em remover os governantes ou elites do poder, é necessário abordar as estruturas e práticas que perpetuam as desigualdades e opressões.
Além disso, a resistência ao poder deve ser vista como uma prática coletiva e contínua que envolve múltiplos grupos e indivíduos.
Algumas referências bibliográficas que abordam o tema do poder na perspectiva de Nietzsche, Foucault, Bourdieu e Luhmann são:
Nietzsche, F. (1887). Genealogia da Moral: Uma Polêmica. Editora Vozes.
Foucault, M. (1975). Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Editora Vozes.
Bourdieu, P. (1984). Distinction: A Social Critique of the Judgment of Taste. Harvard University Press.
Luhmann, N. (1984). Social Systems. Stanford University Press.
Essas obras exploram diferentes aspectos do poder e apresentam perspectivas teóricas distintas para pensar sobre o tema. Outras referências bibliográficas relevantes podem incluir:
Lukes, S. (2005). Power: A Radical View. Palgrave Macmillan.
Foucault, M. (1976). História da Sexualidade, Vol. 1: A Vontade de Saber. Editora Graal.
Carva, Álvaro (2010). O Poder da Europa, CEMFP
Bourdieu, P. (1991). Language and Symbolic Power. Harvard University Press.
Luhmann, N. (1990). Essays on Self-Reference. Columbia University Press.
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