Diário Digital
23-03-2006 às 19:25 Maçonaria portuguesa abre as portas em congresso este sábado Por Fátima Moura da Silva A Grande Loja Nacional Portuguesa (GLNP) realiza sábado o primeiro Congresso Maçónico aberto ao público, com o objectivo de desmistificar a Ordem e transmitir os seus valores de cidadania, disse ao Diário Digital o Grão-Mestre da GLNP, Álvaro Carva.
Ajudar a estabelecer a paz é um dos grandes objectivos da Maçonaria, que tem tido intervenções em processos como o da independência de Timor-Leste ou do Médio Oriente.
«Há uma certa imagem que as pessoas associam à Maçonaria que foi criada pelo Estado Novo», afirma aquele responsável, atribuindo a oposição do regime salazarista à Ordem ao facto de esta defender valores que lhe eram contrários, tais como liberdade, tolerância e universalidade. Salazar proibiu a Maçonaria em Portugal em 1935, a qual só voltou a ser permitida 39 anos depois.
Actualmente, «não há qualquer razão para que estes valores não possam ser transmitidos às pessoas», sublinha, acrescentando que, no entanto, permanecem secretos os ritos e símbolos maçónicos por uma questão de «tradição», que a GLNP foi «beber» aos maçons especulativos, no século XVIII.
Toques, palavras, formas de falar e posturas são sinais secretos que permitem aos obreiros (maçons) reconhecer-se entre si e que nunca são revelados aos profanos (pessoas que não pertencem à Ordem).
Embora recusando o papel da Maçonaria como grupo de lobby, Álvaro Carva destaca a importância das intervenções dos obreiros em assuntos tão diversos como o processo de independência de Timor-Leste e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, onde está estampado o «olho divino», símbolo da Ordem, tal como está nas notas de 1 dólar norte-americano, onde encima uma pirâmide.
Nos debates e intervenções dos obreiros apenas há dois temas proibidos: política e religião. «Só assim se compreende como podem coexistir aqui membros das mais diversas forças políticas e de religiões tão diferentes como o catolicismo, judaísmo e islamismo», afirma.
Para os maçons não existe o conceito de Deus como divindade, mas sim como Grande Arquitecto do Universo, GADU, um Ser Superior que representa a perfeição. Inexplicável, mas perfeito e para ser livremente interpretado interiormente por cada um dos membros. Não para ser adorado, mas sim para ser tido como modelo, explica Álvaro Carva.
Precisamente para explicar o pensamento maçónico, no congresso serão lançados dois livros, «Nós, os Maçons», de Armando Hurtado, e «Diálogos com a Maçonaria». «Muita gente tem escrito sobre nós, agora somos nós que falamos sobre o que pensamos», afirma o Grão Mestre, considerando que só os obreiros conseguem de facto explicar a Obra.
A Maçonaria, que teve membros como Eça de Queirós e Gago Coutinho, está aberta a todos, desde que sejam homens e que tenham respeito e afinidade com os valores da Obediência. «Pessoalmente acho que as mulheres devem ter outros processos iniciáticos, que lhes sejam mais adequados», defende Álvaro Carva, sublinhando que a Tradição contém símbolo masculinos, como a «colher» (de pedreiro). Em Portugal existe uma Loja maçónica Feminina e outra mista.
Força, beleza e sabedoria são os três pilares em que assenta um templo maçónico.
A Franco-Maçonaria moderna nasceu a 24 de Junho de 1717, numa reunião de quatro lojas londrinas na Grande Loja de Londres. Em Portugal, o Grande Oriente Português foi criado em 1802 e, depois de várias evoluções, a Maçonaria foi proibida pela ditadura de Salazar, na sequência do que fizeram as ditaduras italiana, alemã, e espanhola, para além das ditaduras comunistas, voltando à legalidade em 1974. A GLNP conta com 21 Lojas, 19 das quais em território português.
O congresso decorre sábado na Universidade Independente de Lisboa.
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