Joana Marques Vidal: Um Legado de Justiça e Proteção às Crianças
Nos "Diálogos" de Platão, Sócrates é retratado confrontando os seus interlocutores com a ignorância mascarada de perspicácia.
Sócrates desconstrói ideias contraditórias com um exame implacável dos argumentos apresentados.
Em "Górgias", Sócrates afirma que o maior dos males é cometer uma injustiça e defende que o injustiçado, por não ter cometido mal algum, pode viver tranquilamente.
Esta perspectiva ressoa fortemente na vida e carreira de Joana Marques Vidal, a primeira mulher a exercer o cargo de Procuradora-Geral da República em Portugal, cuja dedicação à justiça e à proteção das crianças é notável.
Joana Marques Vidal, que faleceu a 9 de julho aos 68 anos, é lembrada pelo seu compromisso inabalável com a justiça e os direitos das crianças.
Nascida em Coimbra e formada em Direito pela Universidade de Lisboa, Marques Vidal dedicou grande parte da sua carreira à proteção de menores e ao apoio às vítimas de violência.
Entre 1994 e 2002, coordenou os procuradores do Tribunal de Família e Menores de Lisboa, onde o seu trabalho incansável em defesa dos direitos das crianças e das famílias deixou uma marca indelével.
A sua atuação não se limitou ao Tribunal de Família e Menores.
Como presidente da APAV — Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, de 2007 a 2012, Marques Vidal desempenhou um papel crucial na luta contra a violência, especialmente contra mulheres e crianças.
A sua abordagem humanista e comprometida fez com que fosse reconhecida como uma magistrada notável, não apenas pelos seus colegas, mas por toda a sociedade.
A dedicação de Joana Marques Vidal às crianças e às vítimas de violência foi mais do que profissional; era uma causa pessoal e cívica.
Dulce Rocha, presidente do Instituto de Apoio à Criança, lembrou como Marques Vidal se destacava pelas suas preocupações cívicas, além das profissionais.
Esta dimensão da sua personalidade mostra que a Magistrada via a justiça não apenas como uma profissão, mas como uma missão de vida.
Em 2012, ao ser nomeada Procuradora-Geral da República, Marques Vidal tornou-se conhecida pela sua firmeza e coerência na liderança de alguns dos casos judiciais mais complexos e mediáticos em Portugal.
A sua coragem em investigar poderosos da política e da finança trouxe-lhe respeito e admiração. Mesmo após deixar o cargo em 2018, ela continuou a ser uma referência de integridade e compromisso com a justiça.
O impacto de Joana Marques Vidal na justiça portuguesa, especialmente na defesa das crianças, é inegável.
A sua capacidade de unir, comunicar e ser confiável elevou o padrão para futuros ocupantes do cargo de Procurador-Geral da República. Mostrou que a justiça deve ser não apenas imparcial, mas também profundamente humana e comprometida com a proteção dos mais vulneráveis.
Joana Marques Vidal exemplificou o ideal socrático de justiça, onde a verdadeira felicidade está em viver uma vida justa e íntegra, sem procurar agradar a todos, mas comprometida com a verdade e o bem-estar dos outros.
O seu legado continuará a inspirar futuras gerações de magistrados e defensores dos direitos humanos, especialmente aqueles que, como ela, se dedicam a proteger as crianças e as vítimas de injustiça.
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