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DUAS OU TRÊS NOTAS SOBRE A UTILIDADE E A NOCIVIDADE DAS RELIGIÕES

DUAS OU TRÊS NOTAS SOBRE A UTILIDADE E A NOCIVIDADE DAS RELIGIÕES


Não sei se Deus existe ou não. Mas sei que muita gente acredita na sua existência. Assim sendo, o efeito social da crença é um facto , uma vez que uma boa parte da sociedade age e determina-se como se ele existisse. Mesmo que não exista objectivamente, Deus é, no plano dos factos, uma existência social.


A segunda parte do raciocínio diz respeito à bondade ou maldade da crença social da existência de Deus. O Divino é, historicamente , um factor de normativização da vida. Recomenda ou impõe comportamentos. Instala-se como regra aferidora de comportamentos. Há milhões de pessoas a agirem de uma certa forma e não de outras para darem cumprimento a preceitos que julgam ser estabelecidos por uma instância divina. Os estudiosos das religiões sublinham que estas normas derivam de um fundo de higiene individual ( a circuncisão, por exemplo) ou colectiva ( a regra do "não matarás" ou do "não cobiçarás a mulher do próximo"). A experiência da sociabilidade fez avultar a necessidade de imperativos morigeradores, único meio de suster ou moderar a concorrência ou a belicosidade entre os seres humanos.


Não se desconhece que o fenómeno possa apresentar factores negativos, o principal dos quais é o vício da fanatização. Nos seres humanos que crêem há uma fracção significativa dos que perfilham crenças impositivas, as quais correspondem ao desejo íntimo da universalização das crenças. Este proselitismo é, fora de toda a dúvida , o mais pernicioso factor de perturbação.


Há portanto, no que concerne à vivência religiosa, dois aspectos antinómicos : o da regulação das práticas e comportamentos colectivos, que reputamos genericamente útil, e o do proselitismo religioso, que consideramos potencialmente perturbador.


A maior dificuldade está no modo de encarar a questão em termos desapaixonados. Em regra, quem crê e quem descrê actua proseliticamente. Isto acaba por repor a questão , para uns e outros, de forma dramática e perniciosa.


A instalação do hábito de pensar sem passionalidade , "seguindo e aceitando a impassibilidade da Natureza" , como recomendaram os estóicos, talvez possa contribuir para a desejável mitigação do confronto social.

@A.C.H

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