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AS AFIRMAÇÕES DO SENHOR BISPO DE BEJA, Portugal

AS AFIRMAÇÕES DO SENHOR BISPO DE BEJA, Portugal


O "Jornal de Notícias" de hoje insere na primeira página a seguinte notícia : "Igreja - Bispo de Beja sugere perdão para padres abusadores".


É pena que o cidadão comum não possa interpelar directamente o Senhor Bispo, para se poder apurar em que contexto e com que alcance foram proferidas as suas palavras.


Se o foram em sentido meramente civilista, sugerindo clemência e perdão ao Poder Judicial, a atitude do Bispo é inaceitável.

Mas o Senhor Bispo poderia estar a falar em sentido teológico. Ora, a teologia cristã apresenta Jesus Cristo como uma divindade misericordiosa. Para ele ( ou Ele) todo o pecado pode ser remido, perdoado, desde que se faça acompanhar por um arrependimento sincero pr parte do prevaricador.


Uma coisa é a acepção civil e jurídica, onde o quadro objectivo do delito é incompatível com a remoção da responsabilidade.

Outra coisa, bem distinta, é a remissão dos pecados humanos, desde que a culpa seja reconhecida pelo pecador e desde que se faça acompanhar por um arrependimento autêntico, não simulado.


O cristianismo nasceu , como dissidência, no interior de uma sociedade judaica e de valores judaicos. Nesta, um dos pecados apresentados como imperdoaveis foi o adultério - sobretudo o adultério da mulher.


A pena imposta pela lei religiosa judaica à mulher adúltera era a lapidação, o apedrejamento. Por isso, a mulher adúltera era conduzida para um lugar pré-determinado de castigo, onde também se juntavam todos os habitantes do lugar , sendo aí apedrejada até à morte.


A doutrinação cristã é muito outra. Jesus Cristo centrou totalmente o perdão dos pecados na interioridade da pessoa. É aí que tudo se joga. E é também por isso que quando confrontaram Jesus com a iminente lapidação da mulher adúltera. ele ( ou Ele) proferiu aquelas luminosas palavras que chegaram até nós e que "grosso modo" , eu apresento deste modo : "Quem nunca tiver pecado que atire a primeira pedra".


Ou seja, aos olhos da doutrinação cristã, até os maiores pecados serão susceptívceis de indulgência e de perdão, se a contrição do pecador for efectiva, passando pelo crivo humaníssimo e psicológico do arrependimento.


Ora, era precisamente este o ponto que eu desejaria ver esclarecido pelo Senhor Bispo de Beja. Ou seja : ele preconizou a neutralização dos tribunais sancionatórios , ou, pelo contrário, centrou-se no plano doutrinal e teológico, proclamando que não existem criminosos definitivos perante o compassivo olhar de Deus ?


É que o título do "Jornal de Notícias" poderá induzir em erro. E se quem colocou a notícia vier a ser confrontado com a versão doutrinal da doutrina cristã, o jornalista agiu de má-fé . Ou com ignorância culposa.


Em ambos os casos deveria, no mínimo, pedir desculpa. Arrepender-se ! Não lhe ficaria mal ...


@ A. H.

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