Fábula dos instrumentos da maçonaria
(uma adaptação de “O marceneiro e as ferramentas” e de um conto de J. B.)
Era meio-dia.
Um grupo desavindo de ferramentas reuniu-se numa Oficina a fim de ultrapassar as suas diferenças.
Tomou a presidência o Malhete, mas logo foi contestado, pedindo alguns dos presentes a sua renúncia. E tudo porque o Malhete fazia demasiado barulho, batendo na mesa a torto e a direito, não permitindo que muitos falassem, mas principalmente porque se julgava que tinha direito por si ao lugar e impor uma disciplina férrea.
Perante o ruído que se perpetuava o Malhete declarou-se vítima de uma conspiração e pedia que os fautores a Régua, o Maço e do Cinzel fossem expulsos da reunião. Queixava-se o Malhete que se considerava a única ferramenta perfeita, que a Régua tinha a mania de querer impor a retidão nos trabalhos, ignorando as características de cada instrumento. Aliás, acrescentava, que o Maço e o Cinzel, que também se queixavam, apenas eram usados para trabalhar as asperezas da pedra, que andavam sempre juntos e que sozinhos nenhum deles tinha valor.
Outro instrumentos entraram na discussão, uma vez que a Régua começou a acusar o Esquadro, o Nível e o Prumo, considerando seus rivais na questão da retidão: o Esquadro, queria ver se o trabalho todo, incluindo o da régua estava perfeito sob todos os ângulos; o Nível nem se levantava, fazia o seu trabalho na horizontal e o Prumo tinha a mania de ver o trabalho numa perspetiva superior, apregoando o que estava direito ou torto.
Nenhum deles se entendia e todos procuravam ter razão nas suas queixas.
De repente entrou o Compasso em passo estugado, que impôs o silêncio a todos. Atrás dele surgiu o mestre da Loja, que pegando em todos os Instrumentos, levou-os para junto da prancha do traçado de trabalhos diário fez a sua distribuição de tarefas, dizendo:
- Cabe a cada um de vocês cumprir a respetiva tarefa, de modo a terminarmos a obra que começámos juntos.
Todos os instrumentos cumpriram o seu trabalho e a obra foi terminada de forma justa e perfeita, conforme foi verificado pelo Mestre da Loja.
Mas mal virou as costas, regressaram as queixas e a discussão.
Desta vez, estando presente o Compasso, impõe este a Palavra dizendo:
- Meus Queridos Instrumentos, cada um de nós tem as suas características e estamos fadados a sermos diferentes pois as tarefas que desempenhamos não são as mesmas. Mas quando o Mestre da Loja nos convocou ao trabalho, deixámos à Porta da Obra aquilo que nos separava, as nossas individualidades, para podermos trabalhar como companheiros que somos para a execução da Obra final. As vossas queixas que provêm da vossa individualidade, só atestam que elas são a vossa fraqueza, pois quando estão a trabalhar em grupo, em equipa, superam o que vos divide e revelam em cada um de vocês as vossas qualidades e perícias.
Lembrem-se que o trabalho comum uniu-nos e como companheiros partilhámos a autoria desta obra, o que demonstra que unidos temos a força e que sozinhos somos fracos.
Os instrumentos entenderam: sozinhos nunca conseguiriam construir sequer uma parede, mas unidos realizaram a obra.
Receberam o seu salário e despediram-se contentes e satisfeitos. Era meia-noite.
Moral da história (se é que se mostra necessária).
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