Clérigo do Século XVIII Desafia as Crenças Populares sobre Vampiros
Em 1746, o respeitado abade Augustin Calmet surpreendeu a comunidade erudita ao se aventurar num campo aparentemente incomum - o estudo das criaturas sobrenaturais.
Esse erudito notório parecia comprometer a sua reputação ao dedicar-se a um trabalho sobre um dos temas mais intrigantes do Século das Luzes: os vampiros.
Junto a ele estava Philippe Charlier, médico legista, arqueólogo e antropólogo.
Em julho de 1758, o "Journal étranger," uma publicação periódica, apresentou um extenso artigo sobre vampiros, referindo-se a eles como "tropas irregulares do Diabo," e enfatizando que eram muito mais do que meros espectros.
Descrevia-se a visão aterrorizante de corpos desenterrados, ainda cheios de sangue e aparentemente frescos.
A simples visão de cadáveres exumados já era assustadora para muitos, mas a visão desses cadáveres ensanguentados causava ainda mais perturbação.
No meio do Século XVIII, surgiram questões intrigantes: quem eram esses seres, de onde vinham? Seriam eles vítimas de alguma doença que os levava a prolongadas desfalecências?
Os vampiros, com sua prática de sucção de sangue, tiveram uma notável repercussão.
Um abade investiga os vampiros.
Em 1746, Dom Augustin Calmet, abade de Senones e grande estudioso, viu sua reputação balançar.
Ele havia sido elogiado pela sua "Histoire de Lorraine" mas agora aventurava-se em outro género literário com seu intrigante trabalho intitulado: "Dissertations sur les apparitions des anges, des démons et des esprits, et sur les revenants et vampires de Hongrie, de Bohême, de Moravie et de Silésie".
Voltaire e outros dessa época não pouparam críticas a Calmet, vendo-o como um compilador ingénuo de devaneios e absurdos.
Entretanto, o abade rejeitava firmemente essas crenças erróneas e repetia incansavelmente que os vampiros não eram reais.
É verdade que a abordagem do abade pode parecer confusa: ele acumulava exemplos, testemunhos e casos particulares, por vezes sem a devida distância crítica.
Segundo Philippe Charlier, Dom Calmet passava por períodos de crença, descrença e posterior crença novamente. Percebia-se a flutuação no seu pensamento e credulidade.
Contudo, o arqueoantropólogo destacava um núcleo de verdade: "Não posso afirmar que os vampiros existam, claro, mas há uma realidade nos rituais que os cercam, como a exumação, a cremação e o empalamento de cadáveres, além da recusa de sepultura para algumas pessoas consideradas potenciais vampiros. Esses rituais eram profundamente enraizados na sociedade."
No entanto, as "Dissertations" de Dom Calmet não representavam um interesse isolado de um erudito idoso.
Os vampiros encarnavam o grande temor do Século XVIII, de forma semelhante às bruxas que haviam causado alarme séculos antes.
O vampiro do Século XVIII, conforme descrito por Dom Calmet, frequentemente era uma figura do povo ou um estrangeiro que inspirava medo.
Havia sofrido uma morte macabra e carregava consigo, no além, uma aura malévola e potencialmente perigosa.
Ao contrário da imagem romântica do vampiro do Século XIX, aquele do Século XVIII era descrito como emanando um odor desagradável, com unhas longas e em avançado estado de decomposição.
Como símbolo do estranho, do selvagem e da alteridade insuperável, essa criatura que não estava nem viva nem morta predominava nos relatos do leste europeu, simbolizando principalmente o medo do invasor otomano.
No entanto, no Século XVIII, regiões como Hungria, Sérvia e Transilvânia tornaram-se parte do império dos Habsburgos, facilitando a disseminação de pessoas, ideias e crenças, permitindo assim que os vampiros conquistassem a imaginação da Europa.
Como explicar essa epidemia de vampirismo no auge do Século das Luzes, quando o racionalismo moderno reinava? Quais medos eram cristalizados pela onipresença dos vampiros?
Como os filósofos das Luzes empreenderam a luta contra essas criaturas sobrenaturais?
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