Identidade sefardita
A identidade sefardita é complexa e multifacetada, o que torna difícil defini-la de maneira satisfatória.
No judaísmo contemporâneo, existem dois grandes grupos, já mencionados noutros trabalhos, os sefarditas e os ashkenazis, que lideram comunidades judaicas em diversos países, incluindo Israel, Brasil e Estados Unidos.
No entanto, essa classificação em dois grupos não é suficiente, uma vez que o termo "sefardita" é utilizado para designar todos os judeus que não são de origem centro-europeia ou ashkenazi.
Comunidades judaicas
Existem numerosas comunidades que são originárias do Oriente Médio e, em especial, de países árabes, que não têm relação alguma com a Espanha e Portugal.
Essa confusão teve início durante o Mandato Britânico (1917-1948), quando foi estabelecido um rabinato dual sefardita-ashkenazi.
A identidade sefardita e a classificação em dois grandes grupos
Assim, todas as comunidades orientais ou mizrajies passaram a ser representadas pelas autoridades rabínicas sefarditas, o que gerou uma confusão semântica em torno do termo "sefardim", que passou a designar comunidades de origens muito diferentes.
A exceção são os judeus yemenitas, que se mantiveram isolados até o século XX e seguem a sua própria liturgia.
Na verdade, o rabinato dual continuou a existir com o estabelecimento do Estado de Israel.
Devido aos movimentos migratórios massivos e a uma alta taxa de natalidade, as comunidades judaicas de origem oriental cresceram significativamente em Israel durante a segunda metade do século XX.
No entanto, apenas uma minoria dos imigrantes não ashkenazis - aqueles que são procedentes da Bulgária, Grécia, Turquia, Egito e Magrebe - são realmente sefarditas, ou seja, descendentes de judeus portugueses e espanhóis que falam ladino.
Elementos culturais que compõem a identidade sefardita
Assim, a identidade sefardita é composta por uma série de elementos, sendo os mais relevantes a origem geográfica na Península Ibérica, o uso da língua ladino nas suas diversas variantes e elementos folclóricos, como o uso de antigos provérbios e melodias e canções de Portugal e Espanha.
Alguns elementos mais difusos incluem o "castillo", pratos típicos da culinária ibérica, como o "pastel", uma espécie de pastel de carne, e o "pão da Espanha" ou "pan de León", um biscoito consumido na Páscoa.
Além desses aspetos mais tangíveis, há outros elementos psicológicos e sociais que unificam a comunidade sefardita, incluindo a saudade e a perda de Sefarade.
Esses elementos combinados criam a complexa e única identidade sefardita.
A origem do termo "sefardita" remonta à palavra hebraica "Sepharad", que se refere à Península Ibérica.
Raízes noutras partes do mundo
Os judeus que viviam na Península Ibérica antes de sua expulsão em 1492 eram conhecidos como "judeus sefarditas".
Após a expulsão, muitos judeus sefarditas emigraram para outras partes da Europa, África e Oriente Médio, onde se estabeleceram em comunidades distintas com suas próprias tradições e práticas religiosas.
No entanto, o termo "sefardita" hoje em dia é frequentemente usado para se referir a todos os judeus que não são de origem askenazi, ou seja, judeus de origem centro-europeia.
Isso pode levar a confusão, já que há muitas comunidades judaicas com raízes em outras partes do mundo que não têm conexão com a Espanha ou Portugal, mas que são consideradas "sefarditas" simplesmente porque não são askenazi.
A liturgia sefardita, que é uma forma de oração e ritual religioso, é seguida por muitas comunidades judaicas de origem oriental ou mizrají, incluindo aquelas que não têm relação com a Espanha e Portugal. Isso pode explicar a confusão semântica em torno do termo "sefardita".
Além disso, há muitas comunidades judaicas de origem oriental que têm suas próprias tradições distintas e práticas religiosas, que podem diferir significativamente das práticas sefarditas.
A origem geográfica na Península Ibérica, o uso do ladino (um idioma judeu-espanhol) em todas as suas variantes, o folclore e a culinária ibéricos, bem como elementos psicológicos e sociais são todos elementos que podem contribuir para a identidade sefardita.
No entanto, é importante lembrar que nem todas as comunidades judaicas de origem oriental ou mizrají são sefarditas e que o termo "sefardita" pode ser usado de forma inadequada ou confusa em certos contextos.
A cidade de Bragança, em Portugal, é um importante centro, com alguma abertura para a preservação da cultura sefardita.
No entanto, ainda há muito a ser explorado e investigado sobre a história e a cultura dos sefarditas em Bragança.
Por isso, seria fundamental que fossem criados centros de estudos sefarditas na cidade de Bragança, para garantir a preservação e o avanço desse conhecimento.
Bibliografia:
Sassoon, D. (2013). The Sephardic Diaspora: From the Iberian Peninsula to the Ends of the World. NYU Press.
De Lange, N. R. M. (2002). An introduction to Judaism. Cambridge University Press.
Benbassa, E. (1993). Sephardi Jewry: A history of the Judeo-Spanish community, 14th-20th centuries. University of California Press.
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