Encontramos no site oficial do Supremo Conselho de Portugal, em 2017, o texto que se segue. Pelo seu interesse histórico e profundo, reativamos o referido texto.
SUPREMO CONSELHO DE PORTUGAL DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITE | Altos Graus Regulares e Tradicionais
No passado havia somente dois graus maçónicos. Mais tarde, os “Sublimes Graus do Escocismo” complementaram a série dos três primeiros graus, o de Mestre, que surgiram do ofício, devendo o seu nome ao primeiro deles, o de Mestre Escocês, aparecido em Londres, até 1733.
Os mestres escoceses que se tinham estabelecido em França e que se encontravam sob a protecção de Luís XIV são mencionados pela primeira vez nas Ordenações da Grande Loja de França em 1743. Representavam uma corrente decididamente espiritualista que se confrontava com o racionalismo que ascendia nessa altura na cultura francesa. Promoviam assim com a espiritualidade experiências de conhecimento que os construtores medievais já tinham nas raízes profundas na Tradição iniciática das antigas culturas.
Os membros aderiam em força e, pela primeira vez, a Grande Loja de França aumentava o número de membros em detrimento da qualidade. Estas preocupações levaram o Conde de Clermont e grão-mestre da Grande Loja de França desde 1743 a aprovar uma oficina em Paris, de trabalho maçónico, denominada “S. João de Jerusalém”, cujos Estatutos atribuía aos Mestres Escoceses a guarda da Tradição maçónica nas lojas simbólicas. Estes Estatutos foram publicados em 1755.
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Se as fontes da Maçonaria simbólica se conservam nas ilhas britânicas ou mais certamente na Escócia, as da Maçonaria Escocesa, tal como é praticada pelo Supremo Conselho de Portugal do Rito Escocês Antigo e Aceite (www.scdp.net) e que tem um Tratado de Trabalho e Reconhecimento com a Grande Loja Nacional Portuguesa (www.glantigos.org) terão de ser procuradas na Europa continental e principalmente em França.
O conde de Clermont teve uma vida curta. Mas o suficiente para estender o sistema de graus à Alemanha. E, de uma forma irrefutável, foi emitida uma patente, outorgada em 1761 pela Loja de São João de Jerusalém que autoriza Etienne Morin, cavaleiro e príncipe de todas as ordens da Maçonaria de Perfeição, a estabelecer lojas do Rito de Perfeição na América e onde quer que fosse. Etienne Morin é, assim fundador da Loja Mãe Escocesa de Bordéus, que organizou em São Domingo e na Jamaica, durante a década de 1760, a Maçonaria de Perfeição, com vinte e cinco graus.
À excepção do grau eminentemente cavalheiresco de Sublime Príncipe do Real Segredo, que coroava o edifício, esta fundação utilizava os graus procedentes de França.
Foi Henry Andrew Francken, Deputado e Grande Inspector de Etienne Morin na América do Norte, que fez uma transcrição dos rituais da Maçonaria de Perfeição que constituem hoje uma preciosa referência para a prática do Rito Escocês Antigo e Aceite.
A Maçonaria de Perfeição estava assim dirigida por um Soberano Grande Consistório criado em virtude das Constituições e Estatutos de 1762, chamados de Bordéus, que haviam sido elaborados segundo o patrocínio de Frederico II, rei da Prússia. Há dúvidas na qualidade histórica deste documento, mas para a história do Rito ele existe. Apesar de haver um conjunto de elementos que permitem sustentar a autenticidade deste documento. Procurava-se assim, estabelecer um documento fundador a fim de restabelecer a Antiga Maçonaria conservando-se dessa forma os santos mistérios. Promovia-se a noção de Ordem e organizava-se harmoniosamente os diversos graus praticados.
Em 1801, em circunstâncias que os historiadores não esclareceram, criou-se em Charleston, Carolina do Sul, o primeiro Supremo Conselho de Soberanos Grandes Inspectores Geral do trigésimo terceiro e último grau do Rito Escocês Antigo e Aceite. Este acontecimento foi dado a conhecer por uma simples circular datada de 04 de Dezembro de 1802. Anunciava-se a criação do Supremo Conselho, com base nas Grandes Constituições, chamadas de Berlim, ratificadas em 1786 por sua Majestade o rei da Prússia. São estas Grandes Constituições de 1786 que trazemos aqui com a sua publicação, para que sirva o interesse dos maçons e dos estudiosos da Maçonaria. E, com ele, fundamentar a Tradição e a história maçónica que representamos em Portugal.
21 anos depois do primeiro passo que levou à criação em Portugal da Maçonaria Regular e Tradicional, não há melhor forma de se comemorar este efeito. A publicação desta pequena brochura, disponível para maçons e profanos e, desta forma, ficam a conhecer mais de perto o Supremo Conselho de Portugal do Rito Escocês Antigo e Aceite e a Maçonaria Regular e Tradicional.
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O seu primeiro presidente, ou Grande Comendador foi John Mitchel, figurando como co-fundadores o conde Grasse-Tilly – e que fundou pouco tempo depois o Supremo Conselho de França (1804) – e Noël Delahogue, de entre outros.
O conde Grasse-Tilly foi o Presidente e Grande Comendador do Supremo Conselho de França e membro do Supremo Conselho dos Estados Unidos desde 1802.
A divisa que os Supremos Conselhos, incluindo o Supremo Conselho de Portugal do Rito Escocês Antigo e Aceite adoptaram é ORBO AB CHAO, cujo sentido implica a acção de um princípio de ordem organizador e regularizador do caos inicial. Pretendia-se, desta forma, por fim de forma definitiva à situação gerada pela anárquica proliferação de graus escoceses. Colocava-se, desta forma, na fundação do Rito Escocês Antigo e Aceite, tal como se fez com a Maçonaria de Perfeição, um conjunto de graus que já eram praticados em França e nas Antilhas.
As Grandes Constituições de 1786 não eliminaram as Constituições e Estatutos de 1762, mas complementaram-nas. Expressou-se assim a vontade dos fundadores: reunir num só corpo maçónico todos os Ritos do regime do Rito Escocês.
As Grandes Constituições foram revistas em 1875 pelo Convento Internacional de Lausana. Estes documentos conferiram aos Supremos Conselhos uma autoridade não partilhada sobre todos os graus do 4º ao 33º e último do R.´.E.´.A.´.A.´..
As Grandes Constituições determinam ainda que os Supremos Conselhos emanam da mesma fonte: institucionalizavam assim um Supremo Conselho soberano com poderes que foram originalmente detidos por Sua Majestade o rei da Prússia, na qualidade de Grande Comendador da Ordem. Poderes estes que emanavam da mesma fonte e cuja procedência entre eles eram estabelecidas por ordem de antiguidade. As Grandes Constituições impõem ainda como obrigatório para cada Supremo Conselho assegurar a perenidade do Rito Escocês Antigo e Aceite preservando-o de todas as alterações que pudessem provocar vicissitudes históricas. Os Supremos Conselhos devem, assim, não só conservar e preservar as estruturas do Rito, mas também os rituais, veículos do “corpus” simbólico que lhes conferem a sua dimensão espiritual.
O Rito Escocês Antigo e Aceite é o sistema ou o método mais usado como trabalho-estudo maçónico no Mundo.
A criação de um Supremo Conselho carece de continuidade e como prova da mesma é constituído o segundo Supremo Conselho do Mundo - primeiro Supremo Conselho na Europa – denominado Supremo Conselho de França, que criou o Supremo Conselho de Portugal do Rito Escocês Antigo e Aceite a 4 de Setembro de 2004, na Quinta da Regaleira (Sintra - Portugal) e que tem um Tratado de Reconhecimento com a Grande Loja Nacional Portuguesa, recebendo assim, até ao momento, em regime de exclusividade, Mestres Maçons provenientes desta Obediência.
Mas não é obrigatório este modelo e o Supremo Conselho pode admitir Mestres Maçons de outras Obediências, desde que lhes reconheça nos três primeiros graus metodologias e práticas da Maçonaria Regular ou ensinamentos da Tradição iniciática universal.
Uma Grande Loja é denominada por Obediência e um Supremo Conselho é denominado por Jurisdição ou Potência. Assim, na Europa Continental a prática do Rito é diferente hoje em dia da que é praticada do outro lado do Atlântico. As práticas da maçonaria anglo-saxónica não expressam as mesmas realidades das existentes na regularidade continental, quer relativamente ao trabalho maçónico, quer quanto às práticas dos rituais, quer na utilização de símbolos, bem como na evocação do Grande Arquitecto do Universo. Por isso a Europa promove a protecção e conservação do Rito Escocês Antigo e Aceite onde implica um regresso às fontes, à Tradição, conseguindo desta forma evitar que se confundem dois termos maçónicos: irregularidade e reconhecimento.
O reconhecimento implica relações exteriores, o aceitar visitas recíprocas ou inter-visitas. São o relacionamento entre as Jurisdições ou entre as Obediências. São regras administrativas. Mas a regularidade está relacionada com a referência a textos fundamentais, com a evocação do Grande Arquitecto do Universo, símbolo máximo da expressão simbólica da dimensão espiritual praticada, com a presença da Bíblia aberta durante os trabalhos, com a conservação do Rito e a estrita observância dos rituais. É intrínseca a cada Obediência ou a cada Jurisdição que se inscreve na Tradição. Por isso não há autoridade que possa conceder ou retirar aquilo que se obteve como regular transmissão.
Por outro, o Rito Escocês Antigo e Aceite europeu desenvolveu o esoterismo maçónico incorporando a Tradição cavalheiresca medieval cristã, com as suas referências de lealdade, rectidão, valentia, sentido de honra e de caridade. O Cavaleiro combate a corrupção, a mediania, a pusilanimidade, o cinismo, a cumplicidade servil diante da indiferença, é fiel a si mesmo, aos seus compromissos, como faz o homem honrado. Em qualquer circunstância, dá provas de nobreza de sentimentos vinculada a um profundo respeito pelos valores morais. Combate pelo respeito, pela dignidade humana e comprometem-se em defesa dos direitos do Homem contra a autoridade usurpada.
O Rito Escocês Antigo e Aceite praticado pelo Supremo Conselho de Portugal aqui representado integraram a Tradição Primordial, a herança dos grandes movimentos do pensamento que se iam sucedendo no tempo: o Hermetismo, a tradição hebraica surgida de Moisés e Salomão, o ideal cavalheiresco da cristandade medieval, o modelo dos construtores medievais, o humanismo renascentista, o esoterismo da alquimia, os mistérios da Cabala, o misticismo dos sufis; numa palavra, todas as orientações espirituais presentes no mundo ocidental.
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Se uma Grande Loja trabalha em exclusivo os três primeiros graus, os restantes graus – do 4º grau ao 33º e último grau do R.´.E..A.´.A.´. – são desenvolvidos no Supremo Conselho.
No Supremo Conselho de Portugal do Rito Escocês Antigo e Aceite, estes 33º graus dividem-se em quatro blocos, tal como a Tradição do Rito: os três primeiros graus são comuns a todos os sistemas maçónicos. Os dez seguintes (do 4º ao 14º grau) são trabalhados nas chamadas Lojas de Perfeição. A sua temática continua a ser a construção do Templo e as suas vicissitudes. Cada um destes graus contém uma lenda característica e símbolos que se utilizam como utensílios de trabalho. Estas lendas e símbolos têm uma riqueza espiritual e filosófica que é gradualmente apresentada aos iniciados nos Altos Graus. Ensina-se a descoberta do Dever pessoal, através do conceito da Lei universal e é a base para a procura da Palavra Perdida e do “sentido” para a vida. Estes e outros princípios devem ser difundidos por toda a Terra, sendo este o tema da lenda do grau 14º.
Do 15º grau ao 18º grau os maçons do Supremo Conselho de Portugal do Rito Escocês Antigo e Aceite trabalham no local que denominam de Capítulo. Apesar do primeiro Templo ter sido destruído (como foi o Templo de Salomão) o homem conseguirá a sua construção ajudado e ajudando. Destaca-se no 17º grau o esforço cavalheiresco e a sua abertura espiritual – Cavaleiro de Oriente e de Ocidente. O Amor conduz até à Palavra Perdida. O grau 18º que se denomina Cavaleiro Rosa Cruz representa uma síntese do fim e dos meios da Maçonaria Universal, tendo em conta a Fé, a Caridade e a Esperança, dando assim sentido à vida. O Templo por construir não é material mas espiritual. Os trabalhos no 18º grau nunca são encerrados. Apenas são interrompidos.
Do 19º grau ao 30º grau são trabalhados nas lojas chamadas de Areópagos. Se temos nos graus anteriores a descoberta do Amor universal, somos levados nestes graus à acção espiritual. É esta a filosofia da acção maçónica e, por isso, estes graus são denominados de filosóficos. Já não se procuram os Templos materiais, mas um mundo virtuoso e fraterno, uma “Jerusalém celeste”. O símbolo da acção Templária é que converte simbolicamente o maçon no grau 30º no novo cavaleiro de um novo Templo pela ascensão de escala mística da Virtude: o Cavaleiro Kadosh.
O último bloco é constituído por graus administrativos. São eles o 31º, 32º e 33º. As lojas são denominadas, respectivamente, por Soberano Tribunal, Consistório e Conselho Supremo. O grau 31º carece de carácter iniciático. O grau 32º exalta o valor da Tradição iniciática como um tesouro herdado. O grau 33º e último é formado pelos Soberanos Grandes Inspectores Gerais. Entre eles, encontramos maçons como Ricardo Pereira, 33º, Álvaro Carva, 33º, Barata Pires, 33º, José Prudêncio, 33º, Jacinto Alves, 33º, Fernando Reis, 33º, Carlos Neves, 33º, Carlos Leal, 33º, de entre outros, que receberam os seus graus em Paris comprovados por Diploma emitido pelo Suprême Coinseil de France, fundado em 1804. De entre vários membros da Jurisdição que fazem parte do Conselho Supremo que alcançaram, após longos anos de estudo, é eleito, por cooptação, um número limitado para exercer a autoridade suprema do Rito em cada país, formando um Supremo Conselho com poder jurisdicional sobre as lojas de Perfeição, dos Capítulos e dos Areópagos. Os restantes membros do grau 33º continuam a pertencer ao Conselho Supremo.
O Rito Escocês Antigo e Aceite é um rito iniciático racional, a fim de evitar confundir tradição com conservadorismo, espiritualidade com religião, modernidade e modernismo.
Cada Supremo Conselho está integrado por um mínimo de nove e um máximos de 33 maçons do grau 33º e é presidido por um Soberano Grande Comendador.
A jurisdição sobre as lojas simbólicas dos três primeiros graus é presidida por um Grão-Mestre.
Desde 2004, que o Supremo Conselho de Portugal do Rito Escocês Antigo e Aceite tem como dirigente máximo, o M.´. Pod.´. Soberano Grande Comendador, Muito Ilustre Ir.´. Ricardo Pereira, 33º, coadjuvado pelo M.´. Ilustre Grande Comendador Lugar – Tenente, Álvaro Carva, 33º.
Posteriormente, foi dirigido pelo Muito Ilustre Irmão José Albino Prodêncio, 33., coadjuvado pelo M.'. Ilustre Irmão Álvaro Carva, 33º.
Desde setembro de 2017, que o Supremo Conselho de Portugal (www.scd.net) está a ser conduzido pelo III Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho de Portugal, Muito Ilustre Irmão Álvaro Carva, 33.
O Supremo Conselho de Portugal do Rito Escocês Antigo e Aceite encontra-se envolvido num amplo projecto global e mundial, tendo por base a regularidade e a tradição e a ela aderiram mais de uma centena de Supremos Conselhos Mundiais, que, assim, unidos pela sua autonomia fortalecem a fraternidade e a sua vocação da Regularidade e da Tradição.
Bibliografia: História do Rito, publicação interna do Supremo Conselho de Portugal, 2004; Musée Archives Bibliothèque 8, rue Puteaux – 75017 PARIS; Points de vue initiatiques, revista publicada em França, GLdF. "Nós, os Maçons", de Amando Hurtado, com prefácio de Álvaro Carva, Grão-Mestre da Maçonaria Regular e Tradicional denominada por Grande Loja Nacional Portuguesa; "Diálogos com a Maçonaria" - pranchas apresentadas no Congresso Maçónico realizado na Universidade Independente em Lisboa e com o prefácio de Álvaro Carva, Grão-Mestre da Grande Loja Nacional Portuguesa, ambos os livros publicados pela Editora Ver o Verso.
(*) - Fotografia do site oficial do Ilustre Jean-Laurent Turbet
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