No dia 22 de Fevereiro de 2014, sábado, pelas 16.00H, em Leiria, na Rua Maria Emília da Silva Carvalho nº 12, o Museu Maçónico Português, leva a efeito a conferência Constitucionalismo e Lutas Liberais – a Maçonaria em Portugal, a apresentar pelo Prof. Doutor Francisco Carromeu, no âmbito do ciclo Novos Paradigmas.
A Revolução Francesa surpreendeu toda a Europa para alterações institucionais cuja dimensão ninguém esperava. Era o Antigo Regime a desmoronar-se para dar lugar a um outro que deveria partir de fundamentos diferentes. Enquanto se definiam essas novas bases institucionais, o abade Barruel, em 1792, sugere que na origem da queda do regime antigo estariam quatro forças conspiradoras: os maçons, os enciclopedistas, os iluministas e os filósofos. Foi assim criada a primeira teoria da conspiração com a acusação das novas ideias, da discussão livre das ideias e daqueles que se reuniam a coberto, com a legitimação das condenações que a Igreja tinha operado com as bulas de 1738 e 1751.
Nunca os maçons tinham sido associados às revoluções políticas que então iriam começar em todo o ocidente cristão e que só terminariam na primavera dos povos de 1848. Desde então, nunca mais a Maçonaria se conseguiu libertar dessa sua natural propensão para as conspirações, pela sua simples forma de reunião a coberto, entre indivíduos que se aceitam entre si como iguais, independentemente das suas crenças religiosas ou filiações partidárias e que só emitem opiniões que sejam suas, livres de qualquer constrangimento.
Contudo, a Maçonaria nunca foi responsável directa por qualquer revolução. A sua forma de reunião em loja não permite qualquer acto revolucionário, mas os seus membros, pelo simples facto de serem livres, tornam-se, naturalmente, potencialmente revolucionários em qualquer regime opressor dos mais elementares direitos de cidadania. Nessa medida, os maçons são, de facto, responsáveis pelas revoluções liberais de finais do séc. XVIII, princípios do séc. XIX, que deram ao mundo os regimes constitucionais que ainda hoje conhecemos, a liberdade de consciência e a igualdade de todos perante a lei. E construíram os regimes políticos baseados na lei, o sufrágio universal, a liberdade individual e a soberania das nações, fundamentos que hoje correm alguns riscos.
Em Portugal, particularmente, foram os maçons que começaram essa discussão nas lojas maçónicas ainda antes da existência de qualquer organização que a promovesse; criaram as sociedades patrióticas, os clubes, os partidos políticos, os sindicatos, as seguradoras, as mútuas, as cooperativas, os grémios, as associações empresariais, as filarmónicas e tantas outras organizações que estruturaram a sociedade moderna. E foram os maçons que reformaram o Estado e a própria Igreja, consagraram a separação de poderes e aceleraram a evolução da humanidade numa base contratual entre os cidadãos e o Estado que lhes pertencia.
Os maçons souberam encontrar soluções inovadoras para ultrapassar uma das mais profundas crises da nossa história; desempenharam então um papel de enorme relevância cívica. Os tempos são outros, mas seguramente, com trabalho e perseverança os maçons hão-de, igualmente, saber dar um contributo efectivo para ultrapassar a actual crise financeira e de valores que o país atravessa e que hipoteca as gerações vindouras e o futuro.
Fernando Castel-Branco Sacramento Director Museu Maçónico Português Rua do Grémio Lusitano nº 25 1200-211 Lisboa