«SILÊNCIO» | Artigo de Opinião | RF
A pessoa precisa de silêncio, às vezes, também para não ouvir a própria voz. Talvez seja por isso que gosto tanto do FB: preciso de comunicar como toda a gente, sou um ser gregário e sociável, mas escrever aqui não custa tanto como falar. Não são os outros que nos incomodam, aliás; somos nós mesmos a dizer coisas, coisas, coisas. A tentar explicar, a tentar corresponder, a tentar justificar, a tentar reparar, a tentar impressionar - oh, inferno dos infernos!
A educação e a delicadeza obrigam-nos a dizer coisas agradativas, nos antípodas do que sentimos realmente, e essa subalternidade acaba por nausear. E fica o dilema: verdade ou delicadeza? Não tenho dúvidas, delicadeza acima de tudo. Mas como ser verdadeiro e delicado ao mesmo tempo? Só com silêncio ou não será?
Não me refiro às pessoas daqui, sempre facultativas, nem aos meus amigos pessoais, sempre excepções; mas às pessoas em geral, essa massa anónima que, inocente e involuntária, nos persegue e pressiona. Mas, na verdade, «os outros» não passam de uma ideia esmagadora, predadora, asfixiante, que persegue as mentes perturbadas e lhes exige demonstrações de saúde, equilíbrio e progresso. Ora, como eu tenho perfeita consciência de que sou uma mente perturbada e sem demonstrações de saúde, equilíbrio e progresso, concebi este fantasma e é da sua ameaça imaginária que verdadeiramente me escondo.
(Bom, vou-me calar porque a minha voz escrita também é insuportável. Talvez comer uma bolacha, não? Que horas são?
@Rira Ferro, autora e escritora |Página do FB