Acerca da acusação de "pedofilia e homossexualidade" de Charles Webster Leadbeater (Stockport, Inglaterra, 16.2.1854 - Perth, Austrália, 1.3.1934).
Não aprecio o autor pelas suas invenções metafísicas de ordens e igrejas, com messias ou avataras pelo meio, reconheço erros nas suas obras literárias que, mesmo assim, tornaram acessível o entendimento da Teosofia à generalidade das pessoas. Sim, reconheço tudo isso, mas quanto á acusação de "pedofilia e homossexualidade" - que , aliás, nunca foi provada e tampouco confessado pelo acusado - parece ir uma distância maior que os preconceitos de raça e sociedade anglo-indiana. Já escrevi algures:
- Durante séculos e séculos, milénios mesmo, as religiões têm considerado o sexo uma coisa imunda, imoral, não espiritual a evitar o mais possível e a pronunciar quanto menos melhor. Isto tanto no Oriente como no Ocidente, apesar de ser uma das leis e princípios fundamentais da Vida.
Hoje mesmo, neste século XXI, há casais que apesar de casados há muitos anos contudo são-lhes completamente desconhecidos os corpos um do outro: pudicamente, por motivos de padrões morais redutores herdados de gerações e gerações, evitam despir-se na frente um do outro; evitam relacionar-se sexualmente à claridade, e fogem sempre ao prazer corporal por pudor ou vergonha pecaminosa; evitam, até, sozinhos tomar banho inteiramente despidos. Este é, como disse, o verdadeiro “fruto proibido da Árvore da Vida”, precocemente apodrecido por inúmeras gerações sujeitas ao mesmo puritanismo castrador (podendo desencadear, tarde ou cedo, psicoses irreversíveis, como as famosas “taras sexuais”, as quais, nos casos extremos, podem inclusive levar ao suicídio desesperado), envergonhado das reacções naturais do seu corpo que, afinal, é tão-só o templo do Espírito livre habitando nele.
Um dos primeiros, se não o primeiro, que na Índia se opôs a tal estado das coisas foi o teósofo inglês Charles Webster Leadbeater, tendo ensinado as crianças a banharem-se nuas e a esfregarem-se com sabão invés do usual: mergulhar vestidas e logo sair da água, motivo para muitas epidemias por falta de higiene, as quais ainda hoje grassam nesse país. Mais, chegou mesmo a aconselhar a alguns adolescentes mais inflamáveis, como medida profilática, a masturbação, prática abominável para a época e particularmente para uma sociedade repressiva das leis e práticas sexuais. Resultado: até ao presente Leadbeater é considerado por muitos, inclusive teosofistas, um homossexual e até mesmo um pedófilo!
Não pretendo defendê-lo, mas também não acredito que o tenha sido. Ele próprio explica o seu ponto de vista acerca do assunto, em carta datada de 30 de Junho de 1906 endereçada à Presidente da Sociedade Teosófica de Adyar (Estado de Madras, Índia), a sua amiga inseparável Annie Besant:
“A minha opinião sobre o assunto, que tanta gente julga errada, formou-se muito antes dos dias teosóficos. Existe uma função natural do homem que, em si mesma, não é mais vergonhosa (a não ser que seja satisfeita à custa de outra pessoa) que o comer e o beber… Ocorre a acumulação, que se descarrega a intervalos – geralmente de quinze em quinze dias, conquanto, em alguns casos, a frequência seja muito maior, sendo que a mente na última parte de cada intervalo é constantemente obcecada pelo assunto. A ideia era tomar a iniciativa antes da idade em que o assunto se torna tão forte que é praticamente incontrolável, e instituir o hábito de descargas artificiais regulares, porém menores, sem nenhum pensamento durante os intervalos. O intervalo geralmente sugerido era de uma semana, posto que, em alguns casos, se permitisse por algum tempo a metade desse período. Recomendava-se sempre que se alargasse o intervalo até um ponto compatível com a evitação de pensamentos ou desejos sobre o assunto. Você compreenderá, naturalmente, que não se deu nenhuma importância especial a esse lado sexual da vida, apenas referido como uma entre muitas directrizes para a regulação da existência. Assim sendo, quando os meninos eram colocados aos meus cuidados, eu mencionava-lhes o assunto entre outras coisas, tentando sempre evitar toda a sorte de falsas vergonhas e fazendo com que tudo parecesse o mais simples e natural possível, embora, naturalmente, não fosse matéria que devesse tratar diante dos outros…”
Seis meses mais tarde, ele tornou a escrever-lhe:
“Creio que você, nesse particular, foi um tanto ou quanto enganada. Nunca tive o costume de despertar tais sentimentos (de sexo) antes que eles existissem; como lhe disse em carta anterior, nunca falei nesses assuntos antes de ter vislumbrado sintomas preliminares. Não tenho o menor desejo de persuadi-la a adoptar estas opiniões, mas sentir-me-ia muito grato se conseguisse tirar do seu espírito a ideia de que eu estava enganado…”
Seja como for, a masturbação quase ou mesmo diária acaba tornando-se um “vício solitário” indo criar um elemental artificial astral, o qual irá alimentar-se dessas energias libido-passionais despendidas até chegar ao ponto de seu desejo ser mais forte que a vontade do seu criador, assim cortando-lhe ou captando-lhe o domínio da mente, que é o que significa mentecapto.
O Professor Henrique José de Souza, em conversa particular sobre o assunto, teve ocasião de proferir:
“O sistema nervoso está estreitamente ligado ao Plano Astral, Emocional. E quando o elemento humano pratica o vício solitário tem uma sensação, uma emoção tangida para a epilepsia, decorrendo daí a “captação”, a castração da mente pelo sexo impróprio, se não prejudicada por essa função. E se houver deprimência dos sentidos, levará o praticante ao suicídio.”
Quanto a acabar com a própria vida, o preclaro Adepto Serapis Bey, em carta de 1876, é peremptório: “… o maior de todos os crimes – o suicídio”.
Sim, por ser o único acto não previsto nos arquétipos kármicos da entidade, tornando-se, por isso, um verdadeiro atentado à Lei da Natureza. O suicidado terá que esgotar o tempo que ainda deveria cumprir na Terra, dessa feita nos subplanos mais baixos do Plano Astral, em meio de um sofrimento indizível assim projectando os dispositivos de miséria e dor que povoarão a sua próxima reencarnação. Negando a Vida, a Vida o flagela. Ademais, a Lei jamais impõe à criatura esforços maiores que aqueles que possa suportar: poderá ir aos extremos das possibilidades, mas nunca ultrapassando os seus limites. Portanto, o suicídio acaba sendo um acto de cobardia, espiritual e humana, face à Vida… mesmo que se negue convictamente essa mesma existência espiritual, para depois ir confrontar-se com ela na mais dolorosa das surpresas.
Isso leva-me ao místico que morre pela Humanidade. Tem valor, sim e muito, mas muitíssimo mais valor tem aquele que vive pela Humanidade, visto ser fácil morrer e difícil viver, mais ainda – mas com quanta glória – quando se trata de servir o Género Humano, sem esperar nada em troca. É como diz H. P. Blavatsky: “Aquele que vive para a Humanidade faz muito mais do que aquele que por ela morre!”, quiçá inspirada naquelas outras palavras do Alcorão – Sura III:
“Ó Tu, Senhor, que fazes entrar o dia na noite e a noite no dia! Ó Tu, Senhor, que fazes entrar a vida na morte e a morte na vida! A Ti, mais preciosa é a tinta do sábio que o sangue do mártir.”, in, V.M.A