A PANDEMIA E A SANIDADE MENTAL
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Todo o ser humano é um solipsismo, ou seja, é o único habitante do mundo interior que criou. Em tempos normais, a estreiteza deste círculo é mitigada e corrigida com as virtudes de uma sociabilidade normal : saíamos alegremente desse círculo de ferro porque a exterioridade do mundo nos fascinava.
O convívio com Amigos, o relacionamento corrente com conhecidos, a forçosa partilha de espaços com indiferentes, projectava-nos para fora desse espaço pessoal e claustrado. Com a pandemia o solipsismo, sob a forma de retorno ao nosso cárcere privado, regressou em força.
Nunca o existencialismo, na sua feroz dimensão individualista, falou mais alto : " o Inimigo é o Outro". E é-o, por todas as razões invocadas por Kafka ou por Sartre, mas tambèm ( e agora sobretudo) porque ninguém nos garante que esse Outro não possa estar infectado, sob a forma sintomática ou assintomática.
A autoreferência é um dos estigmas característicos da doença mental. Por isso, é importante que sejam incrementadas todas as formas de contacto virtual. A "abertura ao Outro", sob todas as suas formas, é condição impreterível da nossa sanidade mental.", in, A.H.