Reflexões de RF | Hoje andei todo o dia à procura de um tom. [...]
Hoje andei todo o dia à procura de um tom. Voilá mais uma da secreta feminina que exclui integralmente os cavalheiros. É indiferente, porque só tem interesse para nós. Aos homens, dizia a minha sogra, o que sabem não se lhes nega, o que não sabem não se lhes diz. Ah, os tons! Não se trata de música, a harmonia é outra. Tenho um casamento em Setembro, comprei um fato por impulso, falta-me um bolerito chanel, uma ècharpe vistosa, uma casaqueta à nancy reagan, qualquer coisa que componha. O problema não é o modelo, é o tom: não é bem coral, não é bem cyclamen, e salmão ni hablar! Fui a uma loja, fui a três, fui a cinco e encontrei! Uma alegria contida, mal estaria o Mundo se isto fosse motivo de felicidade; pois então está mesmo péssimo, porque a contentamento para qualquer mulher na mesma contingência é indescritível. É o momento em que se agarra no vestido que se levou num saco, mais o complemento que se acabou de achar, e se sai da loja correndo em direcção ao sol para o teste da luz: condiz, não condiz? Bolas, é um tom acima, mas paciência, vai ter que dar. Até para se encontrar um tom há limites, mas contemporizar dói horrores. De volta a casa, há sempre uma amiga que, envolvida na trama, se interessa realmente: “Então, sempre achaste o tom?”. E pronto, ficam a saber: quando virem uma mulher perdida numa loja, a sobrepor uma peça à outra com uns olhos de doida, já sabem: está à procura de um tom e pode cair o Mundo que só voltará a interessar-se por ele se encontrar a tonalidade exacta. Meio tom acima, meio tom abaixo, um pigmento a mais e está tudo estragado., in, Rita Ferro no seu FB